Armas do padre ilegais e com números de série rasurados
por PAULO SILVA REIS, ChavesOntem
A investigação da GNR contraria alegada inocência do padre Fernando Guerra, que nem sequer possui licença de caçador
A história de Fernando Guerra, padre de Covas de Barroso, concelho de Boticas, continua a ser uma autêntica caixinha de surpresas. O DN sabe que as armas apreendidas ao sacerdote não estavam legais, ao contrário do que Fernando Guerra tem garantido e as rasuras nos números de série levantaram suspeitas nos investigadores.Em Boticas e na região do Barroso em geral, o povo não pára de contar histórias a seu respeito que nunca mais acabam e a alcunha de "pistoleiro", que já o persegue desde o seminário, é apenas um entre os muitos "pecados" de que é acusado.
Constituído arguido por posse ilegal de armas, o padre Fernando Guerra tem garantido, em entrevistas dadas a vários órgãos de comunicação social, que possui documentação que prova que as armas apreendidas pela GNR estão legais, à excepção de uma pistola que diz ter herdado do pai.
O sacerdote argumentou que possui licença de uso e porte de arma para um revólver e que, para as outras armas, está a decorrer o processo de legalização na PSP, ao abrigo da nova lei das armas.
Segundo apurou o DN, é certo que o padre Fernando possui licença de uso e porte de arma para um revólver, mas curiosamente a única arma para a qual tinha licença não apareceu durante as buscas efectuadas pela GNR e nem o próprio padre sabia do seu paradeiro.
Apesar do sacerdote garantir que as armas estavam em fase de legalização, Fernando Guerra não possui sequer licença de caçador. Além disso, as três pistolas apreendidas tinham os números de série rasurados, facto que por si só, não permite que as armas sejam legalizadas. A situação levanta mesmo suspeitas da proveniências das armas de fogo.
Segundo uma fonte da GNR, ao abrigo da nova lei das armas, "o padre, para pedir a legalização das armas, tinha que as entregar na PSP e o certo é que as tinha em casa com milhares de munições", salientou.
As autoridades, ao que conseguimos apurar, não gostaram das insinuações que Fernando Guerra fez nas entrevistas que concedeu e muito menos da parte em que o sacerdote fez questão de dizer em que fez exigências: "Têm que devolver as armas, pelo menos essa que está legal e, depois, quando a PSP mandar os documentos, têm que devolver as outras também. A arma do meu pai tem valor estimativo para mim."
A GNR não vai devolver nenhuma das armas até porque, segundo nos informaram, a única que tinha documentação não apareceu e na altura da detenção todas as armas estavam em situação ilegal. Como prova da legitimidade da acção policial, a GNR acrescenta: "Se fosse inocente, o Tribunal não o tinha constituído arguido nem lhe tinha aplicado medidas de coacção".
Durante as entrevistas que concedeu, o padre Fernando fez sempre questão de falar das pistolas e das caçadeiras, mas um dos pontos que deixou muita gente, mesmo na sua aldeia, surpreendida é que em momento algum tentou arranjar explicação para o saco de pólvora e para a dinamite que o Núcleo de Investigação Criminal (NIC) da GNR de Chaves encontrou na sua residência.
Fernando Guerra foi detido em plena sacristia da igreja de Covas do Barroso, numa operação que culminou uma investigação do Núcleo de Investigação Criminal de Chaves que já decorria há alguns meses. Conjuntamente com o padre, foram detidos mais três homens. Todos ficaram em liberdade.
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